“Agressão não me desmotiva. Vou voltar”, afirma auxiliar agredida por técnico

A cena do episódio traumático que sofreu no último domingo não sai da cabeça de Marcielly Netto. A auxiliar de arbitragem foi agredida com uma cabeçada por Rafael Soriano, então treinador da Desportiva Ferroviária (e depois demitido), no intervalo da partida válida pelas quartas de final do Campeonato Capixaba. O episódio de violência impactou a sua vida, mas não fará com que a bandeirinha deixe o futebol.

“Eu vou voltar a trabalhar normalmente. A agressão não me desmotivou em momento algum”, afirma Marcielly em entrevista ao Estadão. “Acredito, claro, que as coisas vão acontecer devagar porque tudo tem seu tempo, mas pretendo voltar a trabalhar normalmente”, reitera a auxiliar, que realizou exame de corpo delito nesta segunda-feira, após fazer o Boletim de Ocorrência.

Segundo consta na súmula do árbitro Arthur Gomes Rabelo, Rafael, que acabou expulso, intimidou Marcielly antes de agredi-la com uma cabeçada. “Árbitra Assistente de n° 01 Marcielly Netto entra na frente dele para afastá-lo e pedir calma, e o mesmo diz ‘tira a mão de mim, só porque é mulher vai ficar me encostando, vai se f**'”, escreveu o juiz no documento.

“A assistente em seguida diz ‘pode expulsar ele, ele não pode estar aqui e ainda reclamando e me xingando’. Neste exato momento em que dou um passo atrás para puxar o cartão vermelho, o treinador parte em direção a ela e desfere uma cabeçada no nariz da assistente, sendo ele contido pelo Árbitro Assistente n° 02 Márcio Berger”, continuou o árbitro.

Segundo o juiz da partida, o técnico foi afastado pelos atletas, mas retornou para dizer “que não havia agredido a assistente e que ela estava fingindo a agressão”. Embora as imagens tenham mostrado com nitidez sua agressão, o treinador chegou a prometer que processaria a assistente caso ela dissesse que teria sido agredida por ele. Também disse que a bandeirinha estava “querendo aproveitar de uma situação porque é mulher”.

A cabeçada atingiu a ponta do nariz de Marcielly. Ela ficou abalada com o acesso de raiva do qual foi vítima e também se surpreendeu com a repercussão que ganhou o caso, inclusive internacionalmente. “Nunca imaginei passar por isso, ainda mais vindo de um líder de equipe, de um técnico profissional”, salientou.

O caso chegou até o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que cobrou medidas das autoridades e disse estar “à disposição para prestar qualquer assistência” que a bandeirinha considerar necessária e prometeu enviar ofício à Federação Capixaba de Futebol, à Confederação Brasileira de Futebol e ao Tribunal de Justiça Desportiva para solicitar “punição exemplar ao agressor”.

Abalada, Marcielly espera que esse incidente no qual esteve envolvida não se repita no futuro. A assistente deseja que as mulheres não sejam vítimas de agressão no futebol e fora dele. “Que isso sirvo de exemplo para o futuro”, diz.

Depois do episódio, Marcielly registrou um boletim de ocorrência e, nesta segunda, passou pelo exame de corpo de delito. “As medidas já foram tomadas”, conta ela. “Os próximos passos ainda não sei”.

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