6 de dezembro de 2025

Cresce o uso de drones na agropecuária brasileira, mas regulamentação enfrenta desafios

drones

RURAL | Cerca de 80% dos drones de pulverização operam de forma irregular, gerando riscos ambientais e econômicos.

A utilização de drones na agropecuária brasileira cresce em ritmo acelerado, com cerca de 36 mil aeronaves de pulverização operando no país. No entanto, um dado alarmante acompanha essa expansão: pelo menos 80% desses equipamentos seriam irregulares, controlados por operadores sem qualificação técnica exigida pela legislação. A irregularidade tem levantado preocupações sobre impactos ambientais e econômicos, especialmente no Rio Grande do Sul, onde a deriva de agrotóxicos é tema de intensos debates.

A Portaria nº 298, publicada em 2021 pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), regulamenta a aplicação de agrotóxicos via drones, exigindo registro junto ao Mapa e à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), além da presença de profissionais qualificados, como engenheiros agrônomos e aplicadores aeroagrícolas remotos.

Na prática, contudo, a falta de registro e capacitação é evidente. Segundo Gabriel Colle, diretor-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), a frota de drones no Brasil praticamente dobrou entre 2023 e 2024, mas a regularização não acompanhou esse crescimento. “Estamos trabalhando muito para que o pessoal registre seu drone e se qualifique, mas ainda há resistência”, destaca Colle.

O baixo custo de aquisição, entre R$ 80 mil e R$ 200 mil, facilita a compra impulsiva por operadores inexperientes. “Ao contrário de tratores e aviões, que exigem maior planejamento, o drone é adquirido sem o devido preparo técnico, o que resulta em aplicações ruins e riscos ao meio ambiente”, alerta o dirigente.

Concorrência chinesa e pirataria
Outro fator que agrava o problema é a entrada de drones de origem chinesa no mercado nacional. Ulf Bogdawa, sócio-fundador da SkyDrones, única fabricante brasileira de drones pulverizadores, ressalta que a pirataria cresceu desde 2022, prejudicando a competitividade da indústria nacional.

“Os drones chineses dominam o mercado, muitas vezes entrando no Brasil por descaminho. Isso compromete a segurança agropecuária, já que esses equipamentos transmitem dados para servidores na China, o que pode representar uma ameaça estratégica”, alerta Bogdawa.

A SkyDrones, que já liderou o mercado nacional com modelos de 10, 30 e 50 litros, viu sua participação no setor cair de 60% para 10%. Apesar disso, a empresa e o Mapa têm investido em capacitação, formando mais de 800 pilotos de drones desde 2019.


Benefícios e limitações
Apesar dos desafios, o uso de drones na agropecuária oferece vantagens significativas. Eles são capazes de acessar áreas de difícil alcance, como pomares em regiões montanhosas, e realizar aplicações de alta precisão, reduzindo o desperdício de produtos químicos.

Segundo Colle, os drones ocupam um espaço intermediário entre o pulverizador costal e o avião agrícola, com capacidade de carga de até 50 litros. “Embora ainda não substituam os aviões, os drones são ideais para aplicações localizadas, especialmente em áreas pequenas e de difícil acesso, como os parreirais da Serra Gaúcha”, explica.

A aposta no futuro é o uso de inteligência artificial para otimizar ainda mais as operações. “Os drones poderão identificar automaticamente áreas afetadas por pragas ou doenças e tratar apenas os locais necessários, o que reforça o conceito de agricultura de precisão”, destaca Bogdawa.


Aplicações além da lavoura
No Rio Grande do Sul, os drones também têm sido utilizados na defesa agropecuária e no combate a doenças. Em 2023, eles desempenharam um papel crucial no monitoramento de um surto de influenza aviária em Santa Vitória do Palmar.

“Os drones permitiram observar o comportamento das aves em áreas alagadas, identificando sinais de infecção. Foi uma ferramenta essencial para a vigilância sanitária”, afirma Francisco Lopes, diretor adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura do Estado.

A crescente adoção de drones na agropecuária brasileira revela o potencial da tecnologia para modernizar o setor, mas também expõe lacunas na fiscalização e na capacitação técnica. Enquanto empresas, como a SkyDrones, e entidades, como o Sindag, trabalham para regulamentar e profissionalizar o uso desses equipamentos, o desafio de alinhar inovação e segurança permanece no centro das discussões do agro nacional.




Foto: Reprodução
Francis Soares (MTB 0017218/RS)

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