Lula cogita Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência e testa reação política à troca de comando
Aliados de Lula dizem que o encontro ocorreu a portas fechadas, há cerca de três semanas, no Palácio da Alvorada. Foto: Ricardo Stuckert/PR
POLÍTICA | Presidente avalia nome do deputado do PSOL para reforçar diálogo com movimentos sociais e resolver crise na pasta ocupada por Márcio Macêdo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sondou o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) sobre a possibilidade de assumir a Secretaria-Geral da Presidência, cargo responsável pela interlocução com os movimentos sociais e atualmente ocupado por Márcio Macêdo (PT). A conversa, segundo aliados do governo, ocorreu há cerca de três semanas, em reunião reservada no Palácio da Alvorada.
Embora não tenha oficializado o convite, Lula questionou se Boulos estaria disposto a desistir da reeleição para permanecer no Executivo até o fim do mandato. O deputado — o mais votado de São Paulo em 2022 — teria respondido positivamente e reforçado seu comprometimento com a reeleição de Lula em 2026.
A movimentação ocorre no contexto da reforma ministerial que Lula ainda articula, diante da necessidade de consolidar apoio político no Congresso e ajustar peças no tabuleiro do governo. Um dos obstáculos à permanência de Macêdo é o crescente descontentamento interno no PT, além de críticas abertas de movimentos sociais que reclamam da falta de diálogo com o Planalto.
Apesar do entusiasmo do presidente, a possível indicação de Boulos não é consenso nem dentro do PSOL. O partido historicamente se posiciona como independente em relação ao governo federal, postura reafirmada no início de 2025, quando a hipótese foi ventilada pela primeira vez. Desde então, o clima no PSOL teria mudado: a legenda passou por um processo de pacificação após a votação da cassação do deputado Glauber Braga (RJ), e lideranças avaliam que o ambiente está mais favorável à entrada de Boulos no Executivo.
Mesmo assim, há receio de prejuízo eleitoral. Boulos é um dos maiores puxadores de votos da esquerda, e sua saída da disputa pode reduzir o número de cadeiras do PSOL na Câmara. A aposta, nesse cenário, recairia sobre a deputada Erika Hilton como principal nome nas urnas em 2026.
No PT, também há desconfortos. Parte da bancada teme que a entrega de mais um ministério ao PSOL — que já comanda a pasta dos Povos Indígenas com Sonia Guajajara — seja vista como concessão excessiva. Nomes alternativos circulam nos bastidores, como o do advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, e do deputado Paulo Pimenta (RS), ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social, afastado em janeiro.
Marco Aurélio, apesar de próximo a Lula, afirma não ter mais interesse em cargo no Executivo. Já Pimenta enfrenta resistências internas desde sua saída da Secom.
Diante da pressão crescente e da insatisfação com Macêdo — cuja saída é tratada como inevitável por interlocutores petistas —, Boulos desponta como solução possível para resgatar a relação com movimentos sociais e dar novo impulso à comunicação com a base militante que historicamente sustentou o PT no poder.

