Produtores rurais intensificam protestos no RS e cobram securitização de dívidas acumuladas
SECURITIZAÇÃO JÁ! | Manifestações ocorrem em rodovias de várias regiões gaúchas com bloqueios intermitentes, apoio de entidades locais e pressão direta sobre o governo federal após cinco anos de perdas consecutivas no campo
Produtores rurais de diversas regiões do Rio Grande do Sul realizam nesta sexta-feira (30) uma série de manifestações em rodovias estaduais e federais, cobrando do governo federal a adoção imediata de medidas de securitização das dívidas do setor. A mobilização ocorre em formato de “pare e siga”, com bloqueios intermitentes que não interrompem completamente o fluxo de veículos, mas visam chamar a atenção para a crise enfrentada no campo.
Os protestos têm organização descentralizada, com articulações feitas principalmente por meio de grupos de WhatsApp. Em São Sepé, na BR-392, os agricultores se concentram em frente ao Posto Cotrisel. A mobilização local conta com o apoio do comércio, do poder público, do Sindicato Rural, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e de outras entidades da sociedade civil.
Na região do Vale do Taquari, os bloqueios ocorrem na ERS-129, em Encantado, e na ERS-332, em Ilópolis. Em Venâncio Aires, os protestos se concentram na RSC-287. Já no Vale do Rio Pardo, há registros de manifestações em Vera Cruz e Pantano Grande, reunindo produtores e representantes de municípios vizinhos. Em todos os locais, tratores e colheitadeiras foram levados às margens das rodovias, simbolizando o impacto direto da crise sobre a produção agrícola.
Endividamento bilionário e cenário climático crítico
De acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), o endividamento dos produtores gaúchos já ultrapassa R$ 72 bilhões. A situação é resultado de cinco anos seguidos de estiagens severas, agravadas pela maior catástrofe climática da história do estado, registrada em 2024, que afetou severamente lavouras e estruturas no meio rural.
A inadimplência generalizada impede milhares de produtores de acessar novos financiamentos, como os oferecidos pelo Plano Safra, além de gerar o risco de negativação em massa de produtores. Muitos boletos vencem justamente nesta sexta-feira (30), o que deve agravar a crise caso não haja medidas emergenciais efetivas.
Reação do governo e críticas do setor
Na quarta-feira (28), o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a Resolução nº 5.220/2025, permitindo a prorrogação, por até três anos, das dívidas de custeio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e do Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural). O limite é de R$ 90 mil por produtor. Parcelas de investimento com vencimento em 2025 poderão ser prorrogadas para até um ano após o vencimento contratual.
Apesar da medida, entidades representativas do agro gaúcho consideram a resolução insuficiente. Elas reivindicam uma securitização ampla, com carência de três a quatro anos, pagamento em até 20 anos e juros reduzidos. A proposta é defendida por parlamentares da bancada federal do estado.
Ministro confirma recursos, mas enfrenta pressão
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, participou nesta semana de audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados. Ele afirmou que o Ministério do Planejamento organizou a reserva de R$ 136 milhões para cobrir o custo fiscal da facilitação do pagamento das dívidas rurais. Segundo Fávaro, o benefício poderá ser aplicado por instituições financeiras até o limite de 8% da carteira de crédito rural, percentual que poderá ser ampliado no Banrisul devido à forte presença do banco no setor.
Durante a audiência, o deputado Heitor Schuch (PSB) gravou vídeo confirmando o anúncio do ministro. Já o deputado Marcelo Moraes (PL) criticou Fávaro por prometer anteriormente, em reunião de 29 de abril, a prorrogação dos débitos. Moraes alertou que muitos agricultores seriam negativados justamente nesta sexta-feira e defendeu a securitização como única solução viável.
O deputado Zucco (PL) também pressionou o ministro, lembrando que esteve pessoalmente no gabinete do Mapa no final de abril, ocasião em que teria sido prometida a criação de um grupo de trabalho entre governo federal e bancada gaúcha. “Os produtores do Estado estão esmagados pelas tragédias climáticas e pelo endividamento”, afirmou Zucco, cobrando ações mais concretas.
Fávaro rebateu as críticas destacando que “foi preciso criar o orçamento necessário para essa prorrogação” e que, em 2024, o governo já havia liberado mais de R$ 3 bilhões para a repactuação de dívidas de produtores com cooperativas. Ele reconheceu, no entanto, que “as medidas ainda não surtiram todos os efeitos” esperados.
Mobilização deve continuar
Os protestos desta sexta-feira marcam a intensificação de um movimento que vem crescendo desde meados de maio. Em várias regiões do estado, agricultores já haviam se organizado para expor maquinário às margens das rodovias, anunciando que a mobilização aumentaria caso não houvesse respostas concretas do governo. A expectativa é de que os atos continuem nos próximos dias, inclusive com possibilidade de paralisações maiores.
O movimento também conta com ampla solidariedade social. Em cidades como Rosário do Sul, mais de 170 estabelecimentos comerciais anunciaram fechamento total ou parcial nesta sexta-feira em apoio aos agricultores.

