Incerteza marca safra 2025/2026 no RS apesar de projeções otimistas
Colheita de soja. Foto: Wenderson Araujo/Trilux
RURAL | Endividamento dos produtores e lentidão no crédito contrastam com previsões de clima favorável e colheita cheia
Com a proximidade do início da semeadura de soja e milho, o Rio Grande do Sul ainda convive com indefinições sobre a produção e a rentabilidade da safra 2025/2026. O principal entrave está no endividamento dos agricultores, que chega a R$ 27,4 bilhões, segundo a Federação da Agricultura do Estado (Farsul), somado à dificuldade de acesso a novos financiamentos dentro do calendário do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc).
A Medida Provisória anunciada pelo governo federal na 48ª Expointer prevê R$ 12 bilhões para renegociação de dívidas de produtores afetados por estiagens e enchentes. Contudo, a liberação depende de regulamentação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e de normativas do Banco Central e do BNDES.
Para o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, a extensão das áreas plantadas dependerá da rapidez e da efetividade das medidas. “Existe uma época certa para plantar, e as plantas não esperam pela burocracia. A safra 2026 ainda está em aberto no Rio Grande do Sul”, alertou.
Otimismo oficial
O secretário estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Edilvison Brum, reconhece as dificuldades, mas aposta em recuperação. Para ele, a previsão de clima dentro da normalidade é decisiva para uma retomada: “Mais do que números, essa recuperação fortalece a economia gaúcha, já que soja e milho são pilares do agronegócio”, destacou.
Números em alta
As projeções da Emater/RS-Ascar apresentadas na Expointer indicam safra de 35,3 milhões de toneladas, 27,3% maior que a anterior. A soja deve puxar o resultado, com estimativa de 21,4 milhões de toneladas (+57,14%), enquanto o milho deverá alcançar 5,7 milhões (+9,45%). O IBGE projeta o RS como quarto maior produtor nacional, com 9,5% do total.
Clima favorável
Após anos marcados por La Niña e El Niño, a tendência é de neutralidade climática. Segundo o meteorologista Flávio Varone (Seapi), setembro e outubro devem ter chuvas regulares, com leve seca em novembro e dezembro, seguida de retomada da umidade no verão. “Com condições equilibradas, a safra tende a se desenvolver normalmente”, avaliou.
Arroz em retração
Na contramão, a lavoura de arroz deve encolher. A Emater projeta queda de 8,1%, com produção de 8 milhões de toneladas. A desvalorização da saca, que caiu de R$ 119,38 em 2024 para R$ 64,45 em setembro de 2025, levou entidades como Farsul e Federarroz a recomendar redução de área plantada.
A Conab anunciou R$ 300 milhões para contratos de opção de venda, tentando garantir preços, mas a iniciativa recebeu críticas de lideranças do setor, que defendem que apenas o mercado pode corrigir os desequilíbrios.

