4 de dezembro de 2025

Analfabetismo funcional ainda atinge 3 em cada 10 brasileiros

analfabetismo

EDUCAÇÃO | No Dia Mundial da Alfabetização, especialistas alertam para desigualdades sociais, raciais e históricas que reforçam exclusão educacional no País

O Dia Mundial da Alfabetização, celebrado na última segunda-feira (8), trouxe mais motivos para reflexão do que para comemoração no Brasil. Dados recentes apontam que três em cada dez brasileiros, entre 15 e 64 anos, ainda são analfabetos funcionais — pessoas que conseguem apenas ler palavras soltas, frases curtas ou identificar números familiares, como preços, contatos e endereços.

A data foi criada pela Unesco para reforçar a importância da alfabetização no desenvolvimento social e econômico. Porém, segundo especialistas, os avanços registrados nas últimas décadas ainda não foram suficientes para eliminar desigualdades históricas.

Desafios na infância e na EJA

A pedagoga e especialista em psicopedagogia Gabrielle Paganini destaca que, na infância, o principal desafio está nas diferenças de contexto entre os alunos.
“Existem crianças que têm muitos estímulos em casa, acesso a livros e um ambiente estruturado. Outras não têm essa realidade. O grande desafio na educação infantil é equilibrar esses contextos distintos”, explica.

Na Educação de Jovens e Adultos (EJA), os obstáculos se multiplicam: muitos estudantes carregam dificuldades acumuladas, além de responsabilidades profissionais e familiares que competem com os estudos.

Em 2024, apenas 59,2% das crianças da rede pública foram alfabetizadas na idade considerada ideal. Embora o índice venha melhorando, ele ainda está distante do desejado. Para especialistas, os impactos da alfabetização tardia extrapolam o tempo de aprendizagem e estão ligados a questões sociais, históricas e raciais.

Exclusão e desigualdade

De acordo com Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec, a estagnação do analfabetismo funcional nega direitos básicos e limita a cidadania.
“Quem são as crianças que não se alfabetizam? São as mais pobres, negras, indígenas, quilombolas, crianças com deficiência e moradores de áreas rurais ou periferias urbanas”, afirma.

A especialista lembra que o problema tem raízes históricas. “Nos primórdios do Brasil, os analfabetos eram os negros, as indígenas, as mulheres. Saber ler e escrever era privilégio dos homens brancos. Essa lógica se perpetua e reforça desigualdades educacionais ainda hoje.”

O impacto do tempo certo

Para Luciana Brites, CEO do Instituto NeuroSaber e doutoranda em distúrbios do desenvolvimento, o ideal é que a alfabetização ocorra até os 8 anos de idade.
“É quando os circuitos neurais estão no ápice do amadurecimento. Isso potencializa o desenvolvimento, reduz o risco de analfabetismo e favorece a compreensão leitora. Mas é importante destacar que uma pessoa pode ser alfabetizada em qualquer fase da vida”, ressalta.

Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), 29% da população brasileira permanece no nível de analfabetismo funcional — índice semelhante ao de 2018. O problema é mais grave entre pessoas de 40 a 64 anos, atingindo 51% dos brasileiros com mais de 50 anos.

O levantamento também expõe desigualdades raciais: em 2024, 41% dos brancos foram considerados alfabetizados consolidados, contra apenas 31% de pretos e pardos. Entre indígenas e amarelos, o índice cai para 19%.

Para especialistas, enfrentar o desafio da alfabetização é essencial para romper ciclos de exclusão e garantir o acesso pleno à cidadania.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WhatsApp