Após polêmica do arroz, governo consolida alta de 3,3% na safra do grão em 2024

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou que a produção gaúcha de arroz, neste ano, é de 7,16 milhões de toneladas. A informação provém do 10º Levantamento da Safra 2023/24, que deu a colheita de 900,6 mil hectares encerrada no Estado no último dia 11 de julho.

O saldo é 3,3% maior que o atribuído pela companhia à produção orizícola do RS na safra 2022/23, de 6,93 milhões de toneladas em 862,6 mil hectares cultivados. E responde por 68% da safra nacional total da cultura, de 10,58 milhões de toneladas (+5,5% frente ao anterior).

O boletim identificou um total de 194,9 mil hectares de arroz atingidos pelas cheias, o que representam 4,7% da área cultivada com a cultura no RS. A companhia informa que, do total, 42,1 mil hectares ainda não estavam colhidos no momento da catástrofe. agrícola e a produção total.

Os números assemelham-se aos levados pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) ao governo federal durante os quase dois meses de impasse sobre as compras públicas do cereal importado.

“A safra 2023/2024 de arroz do Rio Grande do Sul deve ficar em torno de 7.149.691 toneladas, mesmo com as perdas pelas inundações que o Estado sofreu em maio. O número é bem próximo ao registrado na safra anterior, de 7.239.000 toneladas – o que comprova que o arroz gaúcho é suficiente para abastecer o mercado brasileiro, sendo desnecessária a importação do grão”, apontou o Irga em 22 de maio.

O volume chancelado pela Conab é também próximo ao consolidado em 14 de junho, praticamente duas semanas antes de o governo recuar na decisão de importar arroz para garantir o abastecimento nacional do grão, que tem 70% da produção concentrada no Estado.

“A colheita do arroz se encerrou com uma produção de 7.162.674,9 toneladas no Rio Grande do Sul. Na safra 2023/2024 foram semeados 900.203 hectares de arroz irrigado, sendo colhidos 851.664,22 hectares que correspondem a 94,61% da área semeada, com uma média de produtividade de 8.410,21 quilos por hectare”, destacou o instituto, em nota. Na safra 2022/2023 foram semeados 839.972 hectares, com uma produção total de 7.239.000 toneladas.

A autarquia também relatou que as enchentes dizimaram 46.990,59 hectares de arroz, da safra 2023/24 no RS, o que corresponde a 5,22% da área semeada, principalmente na região Central do Estado.

“Os dados dessa safra comprovam o que Irga já vem manifestando desde o início de maio, que a safra gaúcha de arroz, dentro da sua fatia de produção no mercado brasileiro, garante o abastecimento do país e não há, tecnicamente, justificativa para a importação de arroz no Brasil”, garantiu o presidente do Irga, Rodrigo Machado, ao avaliar que os números são muito similares aos da safra passada.

Na quinta-feira, 11, também ocorreu a primeira reunião de monitoramento de mercado entre o setor produtivo e o governo federal. A estratégia foi sacramentada entre produtores, indústrias e a União para garantir o abastecimento interno do cereal e os atuais preços ao consumidor.

“Foi uma reunião normal de acompanhamento de preços. Estamos examinando as tabelas de preços em diversos locais do país”, afirma o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho.

Conforma a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), as exportações do cereal recuaram 31,7% em volume e 22,1% em receita no primeiro semestre, ante igual período de 2023.

O resultado, segundo a gerente de Exportação da entidade, Beatriz Sartori, deve-se às enchentes, que “impactaram a infraestrutura e a logística: estradas foram destruídas, regiões ficaram isoladas por longos períodos e houve alterações no calado do Porto de Rio Grande”.


Sustentabilidade ao cultivo

Durante a fase mais crítica das cheias de maio, o setor arrozeiro gaúcho viu-se embretado pelas águas e pela política. A lavoura estava 84% colhida e a previsão da safra 2023/24 indicava mais de 7 milhões de toneladas.

No entanto, produtores das regiões Central e Sul do Estado, com o cereal ainda por colher, enfrentavam desafios, que iam desde o alagamento de plantações cultivadas até perdas de estruturas, animais e familiares.

O mesmo cenário chegava também às regiões metropolitanas.
Enquanto usava o conhecimento e o maquinário do cultivo irrigado para auxiliar autoridades no escoamento de áreas colapsadas, o setor via crescer a preocupação federal com a falta de estoques públicos de arroz frente às crescentes dificuldades logísticas no Rio Grande do Sul, que produz cerca de 70% do grão consumido em todo o Brasil.

O Irga atestou, no entanto, que a safra seria suficiente para alimentar os brasileiros neste ano, endossando garantia anterior da Federarroz. Mesmo assim, o governo autorizou a importação de 1 milhão de toneladas do cereal e disponibilizou R$ 7,2 bilhões para o intento.

Sob risco de ampliação da oferta interna – e consequente desvalorização do produto após o mais triste e dramático capítulo da história gaúcha -, as reações contrárias à medida chegaram ao Legislativo e ao Judiciário. Entidades, parlamentares, produtores e lideranças foram unânimes em sinalizar para uma vindoura redução no cultivo caso as compras externas ocorressem.

A medida também contrariava as diretrizes atuais da orizicultura gaúcha para manter a continuidade da atividade em longo prazo. As premissas visam equilibrar o tamanho da área cultivada com a produtividade necessária para abastecer o mercado nacional, utilizar a rotação de culturas e a integração produtiva para maximizar o potencial da terra, preservar os recursos naturais e manter as exportações.

“Nos últimos anos, a lavoura vem evoluindo bastante em produtividade e em tecnologias aplicadas, graças à pesquisa, à genética e ao manejo aprimorados”, diz a diretora técnica do Irga, Flávia Tomita.

A diretora entende que os arrozeiros têm papel importante no avanço do setor.

“Graças ao seu profissionalismo, eles começam a enxergar aquelas lavouras como suas empresas, procuram informações, absorvem tecnologias e ferramentas para evoluir”, afirma a diretora.






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