Brasil tem pior posição histórica no Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional

POLÍTICA | País atingiu sua menor nota desde 2012 e caiu para a 107ª posição entre 180 nações analisadas.
O Brasil registrou sua pior posição histórica no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2024, elaborado pela Transparência Internacional. Com 34 pontos, o país caiu para a 107ª posição entre os 180 avaliados, atingindo sua menor pontuação desde o início da série histórica comparável, em 2012. O resultado representa uma queda de dois pontos e três posições em relação a 2023.
A piora é ainda mais evidente quando comparada às melhores notas do Brasil no índice, registradas em 2012 e 2014, quando o país obteve 43 pontos e ocupava a 69ª colocação. Segundo Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional-Brasil, a crescente presença do crime organizado nas instituições públicas demonstra um avanço da captura do Estado pela corrupção.
Retrocessos e desafios no combate à corrupção
Brandão avalia que, apesar do impacto inicial da Operação Lava Jato, o Brasil falhou em corrigir seus erros e adotar reformas estruturais. “Ao invés de corrigir os erros dessa operação histórica, liquidou-a por completo e, ainda mais importante, falhou em olhar para as raízes sistêmicas do problema e avançar com reformas”, afirmou. Ele destacou que, institucionalmente, o Brasil está em pior situação do que antes da Lava Jato.
Se em 2014 o Brasil estava em posição semelhante à de países como Bulgária e Itália, hoje se aproxima de nações como Nepal, Níger e Malauí. O relatório da Transparência Internacional também aponta que o Brasil ficou abaixo da média das Américas (42 pontos) e da média global (43). No G20, grupo que teve presidência brasileira em 2024, o país ocupa a 16ª posição, empatado com a Turquia e à frente apenas de México e Rússia.
Panorama global da corrupção
Os países com melhor desempenho no IPC 2024 foram Dinamarca (90 pontos), Finlândia (88), Cingapura (84) e Nova Zelândia (83). Já os piores colocados foram Sudão do Sul (8), Somália (9), Venezuela (10) e Síria (12).
O Brasil se aproxima da média de pontuação de países considerados não democráticos, de acordo com a Economist Intelligence Unit, que é de 33 pontos.
Principais retrocessos e avanços
A Transparência Internacional lançou o relatório “Retrospectiva Brasil 2024” junto ao IPC, destacando os principais avanços e retrocessos no combate à corrupção. Entre os aspectos negativos apontados estão:
- O silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a pauta anticorrupção;
- O crescimento descontrolado das emendas orçamentárias, ignorando decisões do Supremo Tribunal Federal (STF);
- A aprovação da PEC da Anistia, que levanta preocupações sobre impunidade.
Por outro lado, a organização destacou avanços como:
- Decisões do STF para ampliar a transparência e rastreamento das emendas parlamentares;
- Investigações inéditas contra redes de corrupção no Judiciário, ainda que sob riscos de interferências.
O relatório reforça a necessidade de reformas estruturais para reverter a tendência de queda do Brasil no ranking e garantir maior transparência e integridade no setor público.