Começa a luta para recuperar os solos destruídos no RS

Uma força-tarefa entre os profissionais e técnicos da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), da Emater/RS-Ascar e do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) está levando uma luz no fim do túnel para os produtores que tiveram o solo arrasado pela calamidade no RS.

O grupo, que percorre o Interior desde junho, agora, alerta sobre a complexidade do processo de recuperação das áreas estruturalmente modificada pelas águas. O primeiro resultado do esforço conjunto da academia e da extensão rural foi publicado ao final da semana passada, na Nota Técnica nº 1.

“O processo de recuperação dos solos será desafiador, pois precisamos recuperar a qualidade, não somente a parte química do solo, mas também a parte física e biológica””, alerta o coordenador do Plano ABC+RS, pesquisador do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA/Seapi), Jackson Brilhante.

O maior desafio, segundo os pesquisadores, é trazer as terras afetadas de volta aos níveis de produção pré-existentes. Por isso, as

as tarefas de recuperação devem ser organizadas e planejadas, dada a peculiaridade de cada situação.

“Surpreende a diversidade de situações que encontramos, muitas vezes, dentro da mesma propriedade. Por exemplo: nas análises preliminares, observamos aumento no pH, o que uma tentativa de aplicação de calcário, sem embasamento de recomendação pela análise, incorreria em agravamento da situação”, avalia o diretor do DDPA, Caio Efrom.

Para o chefe do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS, professor Élvio Giasson, a novidade trazida pela tragédia foi a formação de grandes áreas de sedimentação nas áreas planas.

“É uma situação nova, o pessoal está querendo orientações sobre como agir, e fomos buscar na literatura internacional casos semelhantes para nos ajudar nestas soluções”, conta.

Brilhante relata a existência de áreas com 4 a 5 metros de depósito de areia. Em outras, houve remoção da camada mais fértil do solo, e há casos de elevada compactação.

“A primeira ação que fazemos é realizar o diagnóstico da fertilidade do solo através da coleta de amostras em diferentes pontos da propriedade, pois pode ter havido deposição de areia (sedimento) em uns e perda de solo em outros. Então, precisamos conhecer a composição química desses solos”, detalha Brilhante.

Os acadêmicos e os extensionistas já percorreram o Vale do Caí (Bom Princípio e Feliz) e o Vale do Taquari (Muçum e Roca Sales). Segundo o gerente técnico estadual da Emater/RS-Ascar, Marcelo Brandoli, o roteiro de análises segue, a partir de agora, para as regiões da Serra e das Terras Baixas.


Tecnologias do Plano ABC+RS pautam recuperação


De acordo com Brilhante, todo esse processo de recuperação dos solos do RS passa pela adoção das tecnologias do Plano ABC+RS. A política pública de adaptação às mudanças climáticas no setor agropecuário gaúcho preconiza a adoção de tecnologias que promovem maior resiliência para os sistemas de produção agropecuários.

A principal delas é o Sistema Plantio Direto (SPD) que tem como as principais diretrizes, plantio em nível, revolvimento restrito a linha de plantio, cobertura permanente do solo com palha e plantas, e a rotação de culturas.

“O produtor, ao realizar essas três práticas, vai proporcionar a recuperação do carbono do solo que é o principal indicador de qualidade do solo”, indica o coordenador do ABC+RS.

Nos casos em que a prática for insuficiente, a recomendação é utilizar os terraços. O sistema, que têm importante papel no controle do escoamento superficial, podem auxiliar na drenagem das chuvas intensas, além de auxiliar no armazenamento e na distribuição de água.

“O Plano ABC+RS possui outras tecnologias que podemos auxiliar como: bioinsumos, integração lavoura pecuária floresta, sistemas agroflorestais, florestas plantadas e práticas de recuperação de pastagens degradadas”, pontua Brilhante.

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