14 de julho de 2025

Cone Sul enfrenta inverno rigoroso com mortes, colapso energético e neve em regiões inusitadas

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MUNDO | Massas de ar polar da Antártica provocam temperaturas extremas e impacto social em Argentina, Chile e Uruguai

A região mais austral da América do Sul atravessa um dos invernos mais rigorosos das últimas décadas. A onda de frio polar que atingiu o Cone Sul nesta semana causou ao menos 15 mortes e trouxe impactos severos sobre o abastecimento de energia, especialmente na Argentina, além de obrigar autoridades chilenas e uruguaias a adotarem planos emergenciais para proteger pessoas em situação de rua.

Segundo o climatologista Raúl Cordero, da Universidade de Santiago, o fenômeno foi provocado por uma massa de ar polar vinda da Antártica que desceu com força incomum sobre o continente. “Foi um escape de ar frio que atingiu em cheio o sul do Chile e boa parte do Cone Sul”, explicou o especialista à agência AFP.

Morte nas ruas e restrição ao gás na Argentina

Na Argentina, nove pessoas em situação de rua morreram devido às baixas temperaturas, conforme levantamento da ONG Proyecto 7. A capital Buenos Aires registrou nesta semana sua temperatura mais baixa desde 1991: -1,9ºC. A 450 km ao sul, em Miramar, nevou pela primeira vez em 34 anos.

O frio intenso sobrecarregou o sistema elétrico e resultou em apagões prolongados em diversas áreas da capital. Em resposta à crise energética, o governo de Javier Milei suspendeu o fornecimento de gás para a indústria e postos de combustível, priorizando o consumo residencial. Além disso, o Executivo eliminou os preços de referência do gás liquefeito de petróleo (GLP), defendendo a liberação do mercado como solução para garantir oferta e sustentabilidade.

Uruguai decreta alerta vermelho

No Uruguai, seis mortes também foram registradas em meio ao frio extremo. O governo do presidente Yamandú Orsi decretou “alerta público de nível vermelho e alcance nacional”, autorizando o deslocamento compulsório de pessoas em vulnerabilidade para abrigos estatais. A capital Montevidéu marcou, no dia 30 de junho, a menor temperatura máxima desde 1967, com apenas 5,8ºC, segundo o meteorologista Mario Bidegain.

Frio atinge até o Deserto do Atacama

O Chile também ativou planos para acolhimento de desabrigados em meio à onda de frio. Na cidade de Chillán, a temperatura chegou a -9,3ºC. Já no norte do país, o fenômeno surpreendeu ao provocar neve até mesmo em regiões do Deserto do Atacama — considerado o mais seco do mundo — algo que não ocorria há cerca de dez anos. Para o meteorologista da Direção Meteorológica do Chile, Arnaldo Zúñiga, o episódio pode estar relacionado às mudanças climáticas. “Não é habitual que massas de ar tão frias avancem tanto ao norte”, alertou.

Trégua momentânea

Apesar dos registros extremos, uma leve trégua foi sentida nesta quinta-feira (3). Buenos Aires chegou a 12ºC, Montevidéu a 14ºC e Santiago do Chile surpreendeu com 24,7ºC. Mas a oscilação abrupta também chama a atenção dos especialistas. “A frequência com que ondas de calor ocorrem — inclusive no inverno — triplicou em todo o mundo”, disse Raúl Cordero. “São fenômenos anômalos que não deveriam acontecer.”

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