5 de dezembro de 2025

É possível cortar o GPS para o Brasil? Entenda o que está por trás da ameaça americana em meio à crise diplomática com Moraes

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BRASIL | A escalada nas tensões entre os EUA e o Brasil reacende o debate sobre o controle do sistema de navegação por satélite e suas implicações militares e civis

O anúncio de sanções dos Estados Unidos contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, reacendeu um debate que parece ter saído de um roteiro de filme de espionagem: seria possível o governo americano “cortar” o sinal de GPS no Brasil como retaliação?

A medida, ventilada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro após a decisão do Departamento de Estado de revogar o visto de Moraes, foi citada entre possíveis sanções que iriam além da política e da economia. Ao lado de ameaças como aumento de tarifas de importação para até 100% e articulação de punições com a Otan, surge a dúvida: o Brasil pode mesmo ser isolado tecnologicamente do GPS?

Como o GPS funciona?

O GPS (Global Positioning System) é um sistema de posicionamento global desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos EUA e originalmente destinado a fins militares. Ele opera por meio de 24 satélites em órbita, distribuídos de forma a garantir que qualquer ponto do planeta tenha visibilidade de pelo menos quatro deles – número mínimo para calcular a posição com precisão.

Esses satélites transmitem sinais de rádio continuamente. Os receptores em celulares, carros, aviões e até tornozeleiras eletrônicas calculam sua posição com base na diferença de tempo entre a emissão e o recebimento do sinal. A precisão depende da recepção simultânea de múltiplos satélites.

O sistema oferece dois níveis de serviço:

  • SPS (Standard Positioning Service): disponível para qualquer usuário civil do mundo;
  • PPS (Precise Positioning Service): reservado para os militares dos EUA e aliados autorizados.

Pode-se bloquear um país do GPS?

Segundo especialistas, não é tecnicamente viável “desligar” o GPS só para o Brasil sem afetar outros países ou regiões vizinhas. Isso porque o sinal é unidirecional, enviado do espaço para a Terra, cobrindo áreas amplas.

“É como a TV aberta: não tem como impedir um país de receber o sinal sem afetar todo o entorno”, explica Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco e especialista em comunicações por satélite.

Embora os EUA possam modificar o funcionamento do sistema, como já fizeram no passado ao degradar intencionalmente a precisão dos sinais civis (tática descontinuada desde 2000), cortar completamente o acesso afetaria usuários civis e empresas, gerando um efeito colateral político e econômico considerável – inclusive para os próprios EUA.

Mas há formas de interferir localmente?

Sim. A principal técnica é o jamming, em que dispositivos emitem sinais na mesma frequência dos satélites, “abafando” o GPS. Esse tipo de interferência já foi usado em zonas de guerra por países como Rússia e Irã para cegar mísseis, drones e aeronaves inimigas.

Contudo, para funcionar no Brasil, tal sabotagem teria que ser feita dentro do território nacional. Isso exigiria equipamentos específicos e poderia afetar infraestruturas críticas, como navegação aérea e logística, caracterizando um ato hostil com sérias repercussões diplomáticas e econômicas.

Uma ameaça real?

Embora tecnicamente difícil de implementar de forma seletiva, a mera ameaça de bloqueio do GPS carrega peso político, sobretudo em um momento de tensão institucional. O gesto de revogar o visto de um ministro do STF, sob a justificativa de “perseguição” a Bolsonaro, já rompe com o protocolo diplomático tradicional.

Caso sanções tecnológicas avancem, o Brasil poderia intensificar sua integração com sistemas alternativos, como o Galileo (Europa), o GLONASS (Rússia) ou o Beidou (China), todos operacionais e compatíveis com a maioria dos receptores modernos.

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