Entenda por que os franceses estão irritados com a Olimpíada 2024

O presidente francês Emmanuel Macron tem um objetivo em mente: tornar a Olimpíada de Paris um triunfo. Como o mandatário disse tantas vezes, a ideia é mostrar “a mais bela imagem” da França. Macron se envolveu pessoalmente em várias situações, sugeriu o nome de uma cantora, visitou equipes esportivas e chegou a assistir a vídeos de antigas cerimônias de abertura.

Mas, pouco antes desse evento esportivo planetário, ele mergulhou a França em uma enorme crise política ao convocar eleições legislativas antecipadas que resultaram em incertezas sobre quem conseguirá formar um governo. Alguns dizem que Macron estragou a festa. Para outros, a falta de entusiasmo dos franceses com a competição já tinha começado bem antes das reviravoltas na política.

Costuma-se dizer que o esporte nacional na França não seria o rúgbi ou futebol, e sim reclamar. Nesse quesito, os parisienses têm fama de liderar essa reputação. Para muitos moradores da capital, que há meses se deparam com obras por toda a cidade e problemas para se deslocar que vão ainda piorar com o acesso ultrarrestrito a várias áreas da capital por razões de segurança, os Jogos Olímpicos estão longe de ser algo que faz vibrar.


Uma pesquisa do instituto Elabe para o canal BFM TV revela que embora metade dos franceses (52%) tenha o interesse de ver os Jogos na TV ou assistir pessoalmente a algumas provas, apenas 24% afirmam estar empolgados com a Olimpíada de Paris. O levantamento, o último sobre o tema, realizado em maio, também aponta que os moradores da capital francesa e seus arredores, diretamente envolvidos no evento, também se mostram majoritariamente indiferentes ou céticos, enquanto os entusiasmados são apenas 27%.

É cedo para dizer se a tocha olímpica, que chegou a Paris em 14 de julho – dia da festa nacional que celebra a queda da Bastilha -, irá reacender o entusiasmo do público francês. Após ser apresentada ao presidente Macron no tradicional desfile militar, a tocha percorreu a capital durante dois dias, passando pelos principais monumentos e praças e outros lugares menos conhecidos, como o jardim Marielle Franco ou ainda a região popular onde fica a sede do Partido Comunista, projetada por Oscar Niemeyer.

Em áreas do trajeto da tocha, com apresentações artísticas, houve um número significativo de espectadores, alguns até equipados com camisetas e bonés oficiais Paris 2024. No Louvre, centenas de pessoas, principalmente adolescentes, aguardaram horas, mas para ver sobretudo o cantor sul-coreano do grupo BTS de K-pop que participou do revezamento.


Os tradicionais livreiros das margens do Sena, classificados como patrimônio imaterial da cidade, ficaram inicialmente felizes ao saber que o trajeto da tocha incluiu a área onde ficam suas famosas caixas verdes do século XIX. Os “bouquinistes”, como são chamados esses sebos, quase foram retirados do local por questões de segurança da cerimônia de abertura, mas após meses de polêmicas foram autorizados por Macron a permanecer ali. Mas o dia foi bem fraco, apesar do evento excepcional.

“Estamos descontentes com a situação”, conta a livreira Helena Carreira Prada, acrescentando que houve uma queda no movimento nas últimas semanas porque muitas pessoas optaram por não visitar Paris no período que antecede os Jogos.

Quem esteve na cidade ficou frustrado ao se deparar com monumentos cobertos por tapumes e grades e até áreas importantes, como a praça da Concórdia, totalmente fechadas. “Não vejo a hora que isso acabe”, diz uma outra “bouquiniste” que prefere não se identificar.


Os parisienses estão acostumados a um turismo intenso: no ano passado, foram quase 48 milhões de pessoas. Para a Olimpíada, a previsão é de 15 milhões de visitantes. Muitos moradores da capital estão tão irritados com a realização dos Jogos – e todas as mudanças que o evento vem provocando nos itinerários, preços, trânsito, além do receio de transportes ainda mais lotados – que eles preferiram sair da cidade durante o evento.

O metrô, aliás, vai dobrar de preço durante a Olimpíada, o que vem sendo fortemente criticado. O bilhete unitário custará € 4 durante o evento. O argumento é que mais vagões serão colocados em funcionamento. A Prefeitura de Paris vem estimulando a utilização de bicicletas no período dos Jogos. Uma rede de 60 km de ciclovias vai ligar os locais de competições, também nos arredores da capital. O trânsito, que já é normalmente intenso na cidade, deve se agravar consideravelmente com tantas vias fechadas. Por essa razão, muitos taxistas devem cobrar tarifas combinadas previamente – e mais elevadas – porque preveem fazer menos corridas do que o habitual.

A abertura da Olimpíada de Paris terá um dos maiores esquemas de segurança já vistos na França. Cerca de 300 mil pessoas devem ocupar as margens do Sena para assistir ao desfile com as delegações de atletas. O número inicialmente previsto era de 600 mil, mas ele foi reduzido para limitar riscos.





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