Estiagem severa ameaça agronegócio gaúcho, com perdas estimadas para soja e pecuária
RURAL | Impactos no campo já afetam 200 municípios, enquanto governo reforça medidas emergenciais
A combinação de chuvas irregulares e temperaturas escaldantes deverá continuar impactando fortemente o agronegócio nas próximas semanas no Rio Grande do Sul. Embora ainda não haja uma estimativa precisa dos prejuízos, a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) alerta que as perdas serão “muito grandes”, afetando principalmente a soja — principal cultura regional — e a pecuária de corte e leite.
De acordo com o 8º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), mesmo que os meses de março e abril possam trazer algum alívio em comparação ao atual cenário, a reversão mais significativa da aridez, especialmente na faixa oeste, só é esperada para maio. Até esta terça-feira (4), a Defesa Civil contabilizava 200 municípios atingidos pela estiagem, sendo que 197 decretaram situação de emergência e outros três relataram danos.
Perdas agrícolas preocupam
O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, enfatiza que as perdas na produção agrícola são severas.
— Serão perdas muito grandes, muito significativas. Em dezenas de municípios, sequer haverá o que colher, pois a perda é total. A cultura mais prejudicada será a soja — afirmou.
Embora ainda não haja um valor consolidado sobre o impacto financeiro, a Farsul recorda que as estiagens entre 2020 e 2024 resultaram em um prejuízo de R$ 106,5 bilhões para as culturas de arroz, milho, soja e trigo — uma média de R$ 21 bilhões ao ano.
Ireneu Orth, presidente da Associação dos Produtores de Soja do RS (Aprosoja-RS), projeta que a quebra na produção de soja poderá variar entre 35% e 40%.
— A estimativa final só teremos após o término da colheita, mas vai ser grande. Haverá lugares com 100% de perda e outros com muito pouca quebra, porque a chuva foi muito localizada — explicou Orth.
A Emater-RS planeja divulgar um balanço atualizado durante a Expodireto, em 11 de março, em Não-Me-Toque.
Medidas do governo
O governo do Rio Grande do Sul reforça que está implementando políticas públicas para mitigar os efeitos da seca. Entre as principais ações, destacam-se:
- Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação: edital aberto para projetos de irrigação, com benefício de 20% do valor, limitado a R$ 100 mil por produtor. Já foram recebidos 437 projetos, somando R$ 21,6 milhões em subvenção.
- Secretaria de Desenvolvimento Rural: reabertura do Programa de Sementes e Mudas Forrageiras para fortalecer a infiltração de água no solo.
- Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura: atualização de normas de licenciamento ambiental e investimentos em reservação hídrica, como as barragens de Taquarembó e Jaguari.
- Defesa Civil: aquisição de caminhões-cisterna, reservatórios flexíveis de água e instalação de cisternas comunitárias.
Clima continua desafiador
Segundo Marcelo Schneider, coordenador do 8º Distrito de Meteorologia do Inmet, o cenário climático é agravado pelas ondas de calor, que intensificam a evaporação.
— O problema é que o calor está sendo muito intenso, o que provoca uma evaporação alta. Mesmo quando há chuva, a água não se mantém no solo — analisou Schneider.
Embora março e abril possam trazer certo alívio, a previsão é de uma mudança mais significativa apenas em maio, quando a temperatura deve cair e a precipitação pode superar a média histórica.

