26 de março de 2025

Ex-presidente do BC alerta atual presidente do BC, que peça a Lula corte gastos do governo ou a economia do país irá sangrar

arminio fraga e lula

ECONOMIA | Ex-presidente do Banco Central afirma que política monetária sozinha não resolverá problemas econômicos e cobra responsabilidade fiscal do governo.

Em meio à curva de juros em patamar elevado e ao rápido crescimento da relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil enfrenta “sintomas graves” e precisa de ajustes na política fiscal para apoiar o Banco Central (BC). Essa foi a avaliação de Arminio Fraga, ex-presidente do BC, durante um seminário realizado nesta quarta-feira (14), que contou com a participação do atual presidente da autarquia, Gabriel Galípolo.

Fraga destacou que a curva de juros no Brasil “está na Lua” e que as expectativas de inflação, especialmente as taxas implícitas de longo prazo, estão em 6%, sugerindo um problema estrutural. Segundo ele, o Banco Central precisa de apoio para conter a inflação e o único caminho viável é a adoção de medidas fiscais responsáveis.

“O BC precisa de ajuda, e só tem um lugar que pode ajudar: é o fiscal”, afirmou Fraga, que também é sócio-fundador da Gávea Investimentos.

Juros altos e desafios para o novo presidente do BC

Fraga alertou que o cenário atual exige um “suco amargo”, referindo-se à necessidade de manter a taxa básica de juros (Selic) elevada para conter a inflação e desacelerar a economia. Ele enfatizou que Gabriel Galípolo, por ser uma figura de confiança do governo, tem a oportunidade de conduzir um debate sobre controle das contas públicas e demonstrar que “não há mágica” na economia.

“Você, como uma pessoa de confiança das altas autoridades, talvez possa convencê-los de que a festa acabou. O desemprego está baixo, o cenário recente foi positivo, mas agora a realidade fiscal precisa ser encarada”, disse Fraga, em aludindo ao presidente Lula e à equipe econômica do governo.

O ex-presidente do BC reforçou que, embora a política monetária tenha um papel fundamental no controle da inflação, ela “não faz milagre” sem a colaboração da área fiscal. Ele demonstrou preocupação com a falta de discussão sobre um ajuste fiscal efetivo dentro do governo.

“O paciente está na UTI. O mix macroeconômico precisa mudar, e isso não parece estar na agenda do governo”, criticou.

Resposta de Galípolo e desafios institucionais

Em resposta, Gabriel Galípolo reconheceu os desafios do Banco Central na comunicação de suas políticas e no limite de sua atuação institucional. O presidente do BC afirmou que tem tido “espaço e voz” para transmitir ao mercado os desafios econômicos do país e que a discussão sobre política fiscal faz parte dos temas que a autoridade monetária precisa enfrentar.

“Isso faz parte de um desafio que é não cruzar uma linha e não transcender o quadrado da política monetária. Mas você colocou um tema que precisamos enfrentar”, afirmou Galípolo, referindo-se à responsabilidade fiscal.

Após o seminário, Galípolo e Arminio Fraga se reuniram a portas fechadas na sede do Banco Central no Rio de Janeiro para discutir assuntos institucionais. O encontro reforça a necessidade de um diálogo entre diferentes atores econômicos sobre o futuro da política fiscal e monetária do Brasil.

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