Fuga para Brasília: servidores da Seapi migram ao Mapa em busca de carreira estruturada e salários dignos
RURAL | Convocação de aprovados no Concurso Nacional Unificado evidencia evasão de profissionais da fiscalização agropecuária no RS
Com salários congelados há uma década e diante do desafio histórico do primeiro foco de Influenza Aviária de alta patogenicidade na avicultura comercial em Montenegro, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) convocou, nesta quarta-feira (21), os aprovados no Concurso Nacional Unificado (CNU) para cargos de auditor fiscal federal agropecuário. Entre os nomeados estão 23 fiscais estaduais agropecuários da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), sendo 13 médicos veterinários e 10 engenheiros agrônomos.
A lista de convocados foi publicada no Diário Oficial da União e inclui, ao todo, 171 novos auditores: 55 médicos veterinários e 116 engenheiros agrônomos.
A movimentação escancara uma fragilidade antiga: a contínua evasão de servidores da Seapi para a esfera federal. “Esta notícia chega com um misto de alegria e tristeza”, resume o vice-presidente da Associação dos Fiscais Agropecuários do RS (Afagro), Giuliano Suzin. “Alegria pela conquista dos colegas, mas tristeza por ver a repetição da perda de um grupo relevante de profissionais. Mesmo com a recente reestruturação, veio tarde demais para muitos.”
Segundo Suzin, a Afagro tem alertado sucessivos governos estaduais sobre a debandada de profissionais da fiscalização agropecuária, impulsionada pela estagnação salarial e pela ausência de valorização da carreira.
O presidente da Afagro, Paulo Henrique Ferronato, está entre os convocados. Médico veterinário, ele ingressou na Seapi em 2017 e afirma que a decisão foi moldada por anos de frustração financeira. “Ficamos dez anos sem reajuste. É tudo muito difícil. Não há um reconhecimento adequado, visto a importância das nossas atividades para o setor agropecuário”, lamenta.
Apesar das dificuldades, Ferronato reconhece que a experiência na secretaria foi enriquecedora. “Foi uma oportunidade de amadurecimento e satisfação profissional.”
A engenheira agrônoma Michelle Rodrigues, que atua como fiscal estadual desde 2014, também se despede da Seapi. Emocionada, ela agradece à secretaria pela formação profissional, mas aponta para a estagnação como um fator decisivo. “A carreira no Mapa é mais atrativa, com evolução mais rápida e possibilidades internas de mobilidade. Dentro da secretaria, não temos perspectiva de crescimento. Não há aspiração”, desabafa.
A saída de nomes experientes reforça o alerta de que, sem políticas efetivas de valorização e retenção, a fiscalização agropecuária estadual corre o risco de colapsar em um momento crítico para a segurança sanitária e a economia rural do Rio Grande do Sul.

