Guerra comercial de Trump pode impactar economia do Brasil e do Rio Grande do Sul
ECONOMIA | Agronegócio pode sair fortalecido, enquanto setor calçadista enfrenta desafios em meio à disputa global
A intensificação da guerra comercial promovida pelos Estados Unidos sob o segundo mandato de Donald Trump pode gerar efeitos diretos na economia brasileira, especialmente no Rio Grande do Sul. Em um primeiro momento, enquanto não é alvo das medidas protecionistas americanas, o Brasil pode ocupar lacunas deixadas no comércio global e expandir suas exportações. Contudo, caso seja incluído na lista de países taxados, a situação pode se tornar desafiadora, com impacto sobre setores-chave da economia nacional.
Trump anunciou tarifas de importação de 25% para o Canadá e o México, além de 10% para a China. No entanto, um acordo recente com os vizinhos norte-americanos adiou temporariamente as novas taxas, enquanto a China já anunciou medidas de retaliação contra produtos americanos.
Segundo o professor Maurício Weiss, do Programa de Mestrado Profissional de Economia da UFRGS, o Brasil pode se beneficiar no médio prazo caso os países afetados pela taxação dos EUA reajam com medidas semelhantes contra os produtos americanos. “O principal impacto para a economia do Brasil e, mais especificamente, do Rio Grande do Sul, vai ocorrer em caso de retaliação. Por exemplo, com retaliação da China, especialmente em produtos agrícolas, eles passariam a ter uma maior demanda por produtos do Brasil”, afirma o economista.

Agronegócio pode se beneficiar
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, reforça a possibilidade de ganhos para o agronegócio brasileiro. Com os produtos americanos enfrentando barreiras comerciais mais altas, itens brasileiros podem ganhar maior competitividade global.
“No momento em que um país retalia os Estados Unidos aumentando tarifas para produtos americanos, da indústria de alimentos, consequentemente o produto brasileiro, que compete palmo a palmo no mercado global com os Estados Unidos, aumenta sua participação. A gente ganha atuação”, explica Luz.
No Rio Grande do Sul, segmentos como proteína animal e vegetal, biocombustíveis, máquinas agrícolas, grãos (arroz, milho e trigo) e biotecnologia podem conquistar espaço. Países como China, Canadá e México, afetados pelas taxas americanas, podem aumentar sua demanda por esses produtos brasileiros.
Entretanto, se o Brasil for incluído na política protecionista de Trump, determinados itens podem perder competitividade no comércio internacional. Além disso, a postura americana pode elevar a inflação global e manter juros altos, fatores que pressionariam ainda mais o câmbio no Brasil.
Setor calçadista entre oportunidades e riscos
O setor calçadista brasileiro também pode sentir os impactos da guerra comercial, com efeitos positivos e negativos. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a disputa entre EUA e China pode favorecer as exportações brasileiras para o mercado norte-americano.
“Historicamente, os Estados Unidos importam muitos calçados chineses (cerca de 1,2 bilhão por ano). Com a taxação, o mercado abrirá para novos fornecedores fora da China, entre eles o Brasil, principal fabricante de calçados do Ocidente”, destaca Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados.
Por outro lado, a menor participação da China nos EUA pode resultar na busca de novos mercados pelos fabricantes chineses, aumentando a concorrência em países da América Latina e no próprio Brasil.
“Os calçados chineses podem inundar mercados onde o Brasil tem protagonismo, afetando as exportações brasileiras”, alerta a entidade.
O impacto pode ser significativo para o Rio Grande do Sul, que responde por quase metade das exportações do setor no Brasil e tem os Estados Unidos como principal destino.

O risco da taxação para o Brasil
A economista Lisiane Fonseca da Silva, professora da Universidade Feevale, aponta que setores como siderurgia e calçados podem ganhar maior inserção nos EUA em decorrência das novas tarifas impostas a outros países. No entanto, há riscos no horizonte.
“A balança comercial brasileira com os Estados Unidos é deficitária. Importamos mais do que exportamos para eles. Hoje, Trump está mirando nos países que têm superávit comercial com os EUA”, analisa Lisiane.
Apesar disso, a especialista alerta que a política protecionista pode ser aplicada a produtos específicos, o que poderia atingir exportações brasileiras. O cenário ainda é incerto, mas as movimentações nos mercados internacionais devem ser acompanhadas de perto para que o Brasil possa se posicionar estrategicamente.

