Isolada no Congresso, Marina Silva enfrenta embates e derrotas em série na pauta ambiental
POLÍTICA | Ministra do Meio Ambiente é alvo de ataques, vê avanços de projetos contrários ao meio ambiente e enfrenta resistência até dentro do governo
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, vive um momento delicado no Congresso Nacional. O embate travado na última terça-feira (27) na Comissão de Infraestrutura do Senado, marcado por ataques pessoais e abandono da sessão, não foi um episódio isolado, mas o reflexo da crescente fragilidade de sua articulação política. A chefe da pasta ambiental tem assistido ao avanço de projetos legislativos que confrontam diretamente suas bandeiras — e o mais recente golpe veio com a aprovação, no Senado, de um projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental.
A proposta, criticada por ambientalistas por abrir caminho para impactos em até 18 milhões de hectares da Amazônia, foi articulada com o apoio direto do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que também pressiona pela liberação de licenças para exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Alcolumbre ainda criou um grupo de trabalho para regulamentar a mineração em terras indígenas, com maioria de parlamentares ligados ao agronegócio e sob a coordenação da ex-ministra Tereza Cristina (PP-MS).
Negociações travadas e isolamento político
Na tentativa de conter danos, Marina Silva participou de uma reunião com deputados aliados e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para discutir a tramitação do projeto do licenciamento. Segundo a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), Motta se limitou a sinalizar que não deve pautar a matéria com pressa, mas não assumiu compromisso de criar um grupo de trabalho nem se comprometeu com alterações no texto.
A postura protocolar do presidente da Câmara evidencia a falta de apoio político consistente à ministra. Internamente, há também divergências: um ministro — não identificado — critica abertamente a atuação de Marina, acusando-a de travar obras importantes para o país.
Debates acalorados e ataques misóginos
O momento mais tenso da semana se deu durante a sessão da Comissão de Infraestrutura, quando Marina foi atacada por senadores como Plínio Valério (PSDB-AM), Marcos Rogério (PL-RO) e até mesmo Omar Aziz (PSD-AM), da base aliada. Plínio chegou a afirmar que respeitava “a mulher Marina” mas não “a ministra”, e se recusou a pedir desculpas, fazendo com que Marina abandonasse a audiência. Em março, o mesmo senador declarou publicamente que tinha vontade de “enforcar” a ministra.
Apenas os senadores Eliziane Gama (PSD-MA) e Rogério Carvalho (PT-SE) saíram em defesa pública da ministra durante a sessão. Após a repercussão, ela recebeu manifestações de apoio da ministra Gleisi Hoffmann e do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).
Reveses acumulados e vitórias tímidas
A derrota no licenciamento ambiental soma-se a outros reveses enfrentados por Marina no Congresso, como a aprovação da lei que flexibiliza o uso de agrotóxicos e a que institui o marco temporal para demarcação de terras indígenas — esta última ainda debatida em reuniões de conciliação no STF. Enquanto isso, um projeto de lei enviado pelo governo em 2023, que aumenta as penas para crimes ambientais, segue parado na Câmara.
Por outro lado, a ministra teve uma rara vitória com a aprovação da legislação sobre o manejo do fogo, que estabelece regras para o controle de queimadas. Ainda assim, trata-se de um ponto fora da curva em meio a uma pauta ambiental cada vez mais esvaziada dentro do Congresso.
Divisão na base e futuro incerto
O próprio líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), reconheceu que há divisão até mesmo dentro da base aliada quando o tema é meio ambiente. Randolfe, ex-filiado à Rede Sustentabilidade — partido de Marina —, deixou a legenda após discordâncias com a ministra sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial.
Em meio a esse cenário, a ministra segue isolada, enfrentando um Congresso dominado por interesses do agronegócio e por projetos de desenvolvimento com pouco apreço à preservação ambiental. O desgaste político e a série de derrotas acendem o alerta para o futuro da agenda ambiental dentro do governo Lula, que ainda busca equilibrar compromissos internacionais de sustentabilidade com pressões por crescimento econômico a qualquer custo.

