Reforma da Ponte do Fandango: Impactos, Desafios e Alternativas
No dia 30 de julho de 2024, uma audiência pública realizada na Câmara de Vereadores de Cachoeira do Sul abordou um tema crucial para a cidade: a reforma da Ponte do Fandango. Com a presença de representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), da Construtora Cidade e da Magna Engenharia, o evento teve como objetivo apresentar o projeto de reforma e discutir o cronograma de execução das obras com a comunidade local, empresários e imprensa.

O Contexto da Reforma
A Ponte do Fandango é uma estrutura vital para Cachoeira do Sul, não apenas por permitir o tráfego de veículos, mas também por fazer parte do sistema hidroviário do Rio Jacuí. Recentes eventos climáticos extremos, incluindo uma cheia histórica que elevou o nível do Rio Jacuí a 29,55 metros, destacaram a urgência de melhorias na infraestrutura local. As intensas chuvas entre abril e maio, que resultaram em um alagamento significativo, superaram a cheia histórica de 1941 e afetaram mais de 2 milhões de pessoas no estado. Esse cenário reforça a necessidade de adaptações nas estruturas existentes para garantir a segurança e a funcionalidade em um contexto de mudanças climáticas.
O Projeto de Reforma
O projeto de reforma da Ponte do Fandango, detalhado pelo engenheiro Renan Chaves da Magna Engenharia, pelo diretor da Construtora Cidade Raul Leitão dos Santos, pelo superintendente do DNIT Hiratan Pinheiro da Silva e pelo engenheiro-chefe da unidade regional João Carlos Tonetto, prevê um cronograma de 18 meses, a partir de outubro. O plano inclui várias fases:
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- Fundição da Parte Seca da Ponte: A obra começará com a recuperação das rachaduras na parte seca, onde serão colocados blocos pré-moldados na base, um serviço que levará cerca de 10 meses. Durante esse período, o trânsito seguirá no sistema PARE E SIGA para veículos de até 18 toneladas.
- Elevação da Ponte: Utilizando um sistema de macaqueamento na estrutura de ferro, a ponte será elevada, um processo que deverá durar sete dias. Durante essa fase, escadas serão instaladas para permitir a passagem de pedestres, e uma balsa será disponibilizada para a travessia de veículos.
- Demolição e Reconstrução: A parte seca da ponte, entre o Viaduto do Bairro Fátima e o início da ponte propriamente dita, será demolida para a construção de novas fundações com estacas raiz e estruturas pré-moldadas, um processo que durará cerca de cinco meses. Durante esse período, a ponte ficará sem tráfego total, e a balsa será a única opção para a travessia.
- Nova Passarela: A construção de uma nova passarela para pedestres, deslocada para o lado direito da ponte, permitirá o alargamento da pista de sete para quase oito metros.

Impactos Econômicos e Sociais
Apesar das melhorias propostas, o projeto enfrenta críticas significativas. Um dos principais pontos de preocupação é o impacto econômico e social da obra. A interrupção do tráfego, mesmo que temporária, pode resultar na perda de aproximadamente 300 empregos em uma única empresa localizada no perímetro urbano. Além disso, os moradores do outro lado da ponte enfrentarão dificuldades de acesso ao centro da cidade, especialmente se a balsa Deusa do Jacuí não estiver operando. A questão de quem arcará com os custos do uso da balsa também não foi esclarecida, gerando incertezas na população.
Viabilidade Econômica e Alternativas
O cronograma de 18 meses e os custos elevados levantam dúvidas sobre a viabilidade econômica da reforma. Muitos argumentam que os recursos poderiam ser melhor aplicados na construção de uma ponte nova e mais elevada, que atenderia às demandas atuais e futuras da região. A construção de uma nova ponte permitiria manter a estrutura atual em funcionamento, minimizando a interrupção no tráfego e os impactos econômicos. Considerando o custo de quase R$ 303 milhões para a reforma, especialistas sugerem que seria mais prudente investir na construção de uma ponte nova, mais moderna e segura.
Medidas Ambientais Complementares
Além da reforma da ponte, o governo do estado anunciou três medidas relacionadas à conservação ambiental, incluindo o Programa de Desassoreamento. Este programa visa desassorear córregos, canais de drenagem e sistemas de águas pluviais para assegurar a estabilidade e proteção de áreas urbanas e ecológicas. Com um investimento de R$ 303 milhões, o programa faz parte do Plano Rio Grande, um esforço de reconstrução, adaptação e resiliência climática. A cooperação entre Estado e municípios é fundamental, especialmente para os 418 municípios que declararam estado de calamidade ou emergência.
O Programa de Desassoreamento será coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedur), e foi apresentado por Marjorie Kauffmann e Rafael Mallmann, respectivamente. A iniciativa será implementada em dois eixos principais: o eixo 1, que trata de pequenos recursos hídricos, e o eixo 2, que foca em recursos hídricos de médio e grande porte. O aporte de R$ 300 milhões será destinado para projetos do eixo 1, que envolve a cooperação entre Estado e municípios. Já o eixo 2 contará com ações diretas por parte do Estado.

Ações Complementares
Em paralelo, o governo estadual lançou o primeiro edital do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA), com um investimento de R$ 3 milhões. O programa selecionará 40 proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) que receberão apoio financeiro e técnico para preservar a biodiversidade e melhorar os serviços ecossistêmicos de áreas naturais no estado. O edital é coordenado pelo Comitê Gestor da Pepsa e segue as diretrizes do Decreto nº 57.672/2024.
O evento de lançamento dessas medidas contou com a presença do governador Eduardo Leite e dos titulares das secretarias envolvidas, celebrando os 25 anos da Secretaria do Meio Ambiente (Sema). Durante o evento, foi enfatizada a importância da responsabilidade ambiental e da busca por soluções para mitigar os impactos das mudanças climáticas.
Solução Proposta
A proposta de reforma da Ponte do Fandango, embora necessária, enfrenta uma série de desafios e críticas. A possibilidade de perda de empregos, a dificuldade de acesso e os altos custos questionam a eficácia do projeto. A construção de uma nova ponte poderia ser uma solução mais sustentável e eficaz, garantindo a segurança e a funcionalidade da infraestrutura a longo prazo. A comunidade de Cachoeira do Sul merece uma solução que não apenas resolva os problemas atuais, mas também assegure um futuro mais estável e seguro.

Em um momento de grandes desafios climáticos e econômicos, é fundamental que as decisões sobre infraestrutura sejam tomadas com base em uma análise criteriosa e transparente, considerando tanto os custos quanto os benefícios a longo prazo. A participação da comunidade e a colaboração entre diferentes níveis de governo e setores da sociedade são essenciais para alcançar soluções que promovam a resiliência e o desenvolvimento sustentável da região.
Texto/Fotos: Francis Soares

