Safra recorde e atraso na colheita pressionam frete

Os preços do frete rodoviário para transporte de grãos devem aumentar em torno de 15% no país nos próximos dois meses, estima o pesquisador Fernando Pauli de Bastiani, do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (USP). Além da disDe acordo com levantamento da EsalqLog, no ano passado, os valores médios do transporte de grãos no Brasil saltaram entre 40 % e 45% em relação aos de 2021. Na rota de Cruz Alta a Rio Grande, por exemplo, o frete subiu de R$ 47,17 por tonelada de grãos em janeiro de 2021 para R$ 109,60 no mesmo mês de 2022, uma alta de 132%. Em janeiro deste ano, o custo estava em R$ 131,75, uma variação anual de 20,21%. “Houve uma grande alteração no patamar de preços, e o principal fator foi o aumento dos custos de transporte, principalmente do combustível. No Rio Grande do Sul, em 2022 tivemos uma demanda menor devido à quebra da safra (de verão), mesmo assim observamos aumentos de preços de fretes”, diz Bastiani. Parada dos valores dos combustíveis, a projeção leva em conta a expectativa de safra nacional recorde de soja neste ano e o atraso da colheita da oleaginosa em algumas regiões produtoras, o que deve acirrar a demanda pelos serviços e sua maior concentração em determinados meses.

Apesar das perdas causadas pela estiagem na agricultura gaúcha, o pesquisador observa que tanto a produção nacional de milho quanto a de soja no ciclo 2022/2023 deverão atingir números recordes. No caso da soja, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prospecta uma colheita de 153 milhões de toneladas, frente a 126 milhões da safra 2021/2022. “Então, é um aumento de mais de 20% em volume a ser transportado”, destaca Bastiani. Para o milho, a projeção é de 124 milhões de toneladas, 10% a mais que na temporada passada.

Mudanças no calendário de colheita da soja também devem criar gargalos nas estradas, pressionando os preços do frete. Ao contrário do que se verifica no Rio Grande do Sul, em áreas do Norte e do Brasil Central, o excesso de chuva protelou o trabalho das colheitadeiras. “O início da colheita no Centro-Oeste vai ser jogado um pouco mais para a frente, e isso vai acabar conflitando com a colheita em outras regiões, no Norte, no Nordeste e no Sul, principalmente no Paraná, que colhem depois. Vamos ter mais produto para ser transportado num período mais curto”, diz Bastiani, acrescentando que, no Rio Grande do Sul, o pico de fretes para escoamento da soja geralmente ocorre em março e abril. Segundo o coordenador da Comissão de Infraestrutura e Logística da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Fábio Avancini Rodrigues, embora o tamanho do impacto da estiagem na safra gaúcha de soja ainda seja uma incógnita, o setor deve arcar com despesas maiores para escoar a produção nos próximos meses. Ele culpa a dependência do transporte sobre rodas pelos altos custos do frete rodoviário. “Daí a importância de ter um sistema com mais alternativas, principalmente para a carga a granel”, diz Rodrigues, que defende a ampliação das malhas hidroviária e ferroviária. “O Rio Grande do Sul já teve mais de 3 mil quilômetros (de linhas férreas ativas).” De acordo com dados do Atlas Socioeconômico do Estado de 2020, cerca de 1,5 mil quilômetros dessa malha foram desativados.


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