5 de dezembro de 2025

Samir Xaud é eleito presidente da CBF com apoio majoritário, mas em meio a boicote de clubes e questionamentos jurídicos

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Médico roraimense, de 41 anos, comandará a Confederação Brasileira de Futebol até 2029 Foto: Divulgação/CBF

FUTEBOL | Dirigente de Roraima assume o cargo com mandato até 2029 e promete reformar calendário e implantar fair play financeiro

RIO DE JANEIRO – Samir Xaud foi eleito neste domingo (25) novo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em votação realizada na sede da entidade, no Rio. Apesar de ser candidato único, Xaud recebeu 103 dos 141 pontos possíveis e assume o cargo com mandato até 2029. A eleição ocorreu em um ambiente político conturbado, com boicote de clubes e ausência de importantes representantes do futebol brasileiro.

A votação contou com a presença de 26 federações estaduais e 20 clubes das Séries A e B. A Federação Paulista e a de Mato Grosso não compareceram, assim como diversos clubes que haviam declarado apoio ao ex-candidato Reinaldo Carneiro Bastos. Mesmo com o boicote, clubes como Cruzeiro, Santos e Operário participaram da eleição.

A composição dos votos respeita um sistema de pesos: cada federação estadual tem três votos, clubes da Série A têm dois, e os da Série B, um. Ao todo, estavam disponíveis 141 pontos. Xaud recebeu 103, número suficiente para ser eleito, mas distante da unanimidade alcançada por seu antecessor, Ednaldo Rodrigues, em 2022.

Além de Xaud, foram eleitos oito vice-presidentes: Ednailson Leite Rozenha, Fernando Sarney, Flávio Zveiter, Gustavo Henrique, José Vanildo da Silva, Michelle Ramalho, Ricardo Gluck Paul e Rubens Angelotti. Também foi definido o novo Conselho Fiscal, com Simon Riemann, Eduardo Rigotto e Frederico Pedrosa como membros efetivos.

Promessas e discurso de “nova fase”

Em seu primeiro discurso como presidente da CBF, Xaud prometeu renovar a entidade e valorizar o diálogo. Entre suas prioridades estão a reorganização do calendário nacional e a implementação do fair play financeiro. Ele anunciou que os campeonatos estaduais terão apenas 11 datas a partir de 2026 – atualmente são 16.

“Hoje iniciamos uma nova fase na Confederação Brasileira de Futebol. Nossa gestão será marcada pela renovação das ideias e pela agregação de todos aqueles dispostos a contribuir efetivamente para o desenvolvimento pleno do nosso esporte”, declarou Xaud.

Divisões internas e ausência de diálogo

A eleição ocorreu sob forte divisão política. Um grupo de 21 clubes anunciou publicamente o boicote ao pleito, criticando o modelo eleitoral da CBF, que privilegia as federações e enfraquece a participação dos clubes. Parte desse grupo manteve o boicote neste domingo, recusando inclusive a proposta de participação online sugerida pela comissão eleitoral.

A ausência da Federação Paulista, maior do país, e de clubes como Bragantino e Ferroviária, que haviam sinalizado presença, reforçou a insatisfação com o processo.

Envolvimentos e investigações

Xaud chega à presidência da CBF sob a sombra de investigações e questionamentos judiciais. Médico de formação, já ocupou o cargo de secretário estadual de Saúde de Roraima e foi acusado pelo Ministério Público estadual de envolvimento em esquema de falsificação de documentos entre 2017 e 2020, durante sua gestão no Hospital Geral de Roraima. O prejuízo estimado aos cofres públicos é de R$ 1,4 milhão.

Em 2020, foi afastado da função de perito médico do Tribunal de Justiça do Estado por erro médico, o que classificou como “fake news”. Também foi apontado como beneficiário de contrato irregular entre sua clínica e a própria CBF, em 2021, sob a gestão de Ednaldo Rodrigues. A entidade justificou a contratação por pedido da Comissão Médica diante da “escassez de recursos” no futebol de Roraima.

Próximo ato: Ancelotti

Já nesta segunda-feira (26), Xaud deve apresentar oficialmente o técnico italiano Carlo Ancelotti como novo comandante da Seleção Brasileira. A contratação foi articulada ainda na gestão de Ednaldo Rodrigues, que apostava no nome do europeu como trunfo político. A posse de Xaud põe fim definitivo à gestão de Ednaldo, afastado judicialmente por irregularidades no acordo que o manteve no cargo por liminares.

Xaud, agora empossado, terá a missão de pacificar o futebol brasileiro e reorganizar uma CBF que, apesar de bater recorde de arrecadação em 2024 – R$ 1,5 bilhão –, enfrenta sérias fraturas políticas e desconfiança institucional.

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