O movimento SOS Agro RS contabiliza que em torno de 300 dos 497 municípios gaúchos tiveram mobilizações de produtores rurais nesta sexta-feira, em pressão contínua sobre o governo federal para buscar soluções ao endividamento do setor. Entre o meio-dia e 15h, o protesto teve a adesão do comércio, com o fechmento de lojas, no que foi batizado de “Dia de Luto” a favor da reconstrução do Estado. O setor está organizando uma caravana a Brasília para a próxima semana, com intenção de acampar em frente ao Congresso Nacional. “Está todo mundo estressado, ainda mais depois da entrevista (do presidente Luiz Inácio Lula da Silva) para provocar ainda mais o pessoal”, disse o produtor rural Lucas Scheffer, um dos organizadores do SOS Agro RS.
Scheffer fez referência a uma fala de Lula em entrevista a uma emissora de rádio do Estado na qual o presidente revelou mágoa antiga com o setor agropecuário gaúcho. Lula fez menção ao ex-presidente da Federação da Agricultura do RS (Farsul) Carlos Spertotto, falecido em 2017, que liderou a entidade por mais de 15 anos.
“Aqui no Rio Grande do Sul, a gente teve as pessoas ligadas ao sindicato, ligadas ao agronegócio, à Federação, que sempre foi (sic) muito sectária e muito antigoverno”, disse Lula.
O presidente ainda citou outro dirigente do setor do comércio, sem citar nomes. “Essas pessoas grosseiras, sabe, sinceramente, não merecem participar da vida política”, afirmou.
Tratoraço nesta sexta-feira ocupou ruas e praças | Foto: SOS Agro RS / CP
A Farsul não se pronunciou sobre a declarações de Lula, mas as falas revoltaram alguns produtores rurais, que sugeriram medidas mais duras de protesto, como bloqueio de rodovias. A intenção contraria a orientação dos líderes do SOS AGro, que tem defendido manifestações pacíficas em sem atos que prejudiquem a população, especialmente no trânsito. “Essas entrevistas agradam seus eleitores (de Lula), não servem para ninguém. Não vamos cair nessa pilha de fazer bagunça”, advertiu Scheffer. O produtor lembra que, esta semana, o SOS Agro RS teve espaço para apresentar suas reivindicações ao Congresso Nacional e foi recebida pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
A partir de segunda-feira, o SOS Agro RS organizará uma caravana de ônibus para ir a Brasília. O objetivo é manter o diálogo e reforçar a situação vivida pelo agro no Estado após anos de estiagens e as enchentes de maio, que agravaram os problemas de endividamento.
“Vamos levar barraquinhas e ficar acampados na frente do Congresso. Só vamos sair de lá só com medida provisória assinada”, destacou Scheffer.
Na entrevista, Lula ainda disse que o governo federal está atendendo o setor rural. “Duvido que houve algum momento da história política desse país em que o agronegócio tivesse tanto recurso como nos governos Dilma e Lula”, enfatizou. “Em 18 meses, nós abrimos 170 novos mercados para os produtos brasileiros, porque o Brasil voltou à civilidade, o Brasil voltou a ser protagonista internacional, porque o mundo gosta de receber o mundo e o mundo gosta de receber o Brasil”, falou Lula.
Sobre este tema, o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), João Martins, afirmou que a abertura de mercados internacional não ocorre “da noite para o dia” e que faz parte de uma construção que perpassa gestões políticas. “Isso foi uma conversa que já vem de governos anteriores e até mesmo antes do governo Bolsonaro. Louvo a atitude dele de continuar com essa política, que é super acertada e não vem do governo anterior, mas de alguns governos, disse, em avaliação sobre o dezempenho do setor no ano de 2023.
Correio do Povo